“EU VIVO INTENSAMENTE A VIDA E
ELA ME PERMITIU GANHAR EXPERIÊNCIAS QUE ME DERAM UMA DETERMINADA DIRECCÃO, UM
CAMINHO QUE DEVO SEGUIR SEJA QUAL FOR O CUSTO PESSOAL. TAL È A MINHA RAZÃO DE
SER NESTE MUNDO”.
Esta frase escrita por AMÌLCAR CABRAL numa carta datada de 8 de janeiro
de 1949, aos 24 anos de idade, resume simplesmente em poucas palavras toda uma
vida predestinada ao seu povo, até ao desfecho final e tràgico do dia 20 de
janeiro de 1973.
Entretanto neste dia do aniversàrio do nascimento do obreiro da nossa
independência nacional apraz-me transcrever aqui algumas passagens do livro de OSCAR ORAMAS OLIVA ”AMÌLCAR CABRAL UM
PRECURSOR DA INDEPENDÊNCIA” publicado aquando do 25° aniversàrio da sua
morte, livro este que ele considera
como uma dìvida necessària à saldar e atestar da sua grande estima que tem pelo
homem.
Mas quem é OSCAR ORAMAS OLIVA? Este
diplomata cubano conhecia pessoalmente AMÌLCAR, eram grandes amigos e um dos
seus confidentes. Foi embaixador de seu paìs em Guiné-Conacry, em Mali, mais
tarde em Angola, e São Tomé e Prìncipe.
Teve o privilégio e o tempo necessàrio para analisar de perto o
comportamento e a acção do revolucionàrio guinéo-caboverdiano.
Relata: “AMÌLCAR CABRAL era um
homem jovial, de andar firme, que tinha uma grande confiança em si mesmo.
Brincalhão, tinha um grande sentido de humor. Era pontual nos seus encontros;
amador de Marlboro, lia assidùamente os quotidianos como Le Monde, Soleil
Matin, e a imprensa portuguesa.
Tinha um sorriso cordial,
cumprimentava sempre com afetividade, tinha uma simplicidade dos que estão
habituados às grandes acções. AMÌLCAR sabia penetrar a intimidade dos seus
colaboradores, conhecia-os todos e os chamava todos pelos seus primeiros nomes.
Ele fascinava pela sua simplicidade e a sua vasta e profunda cultura.
Bom orador, espìrito
independente, pesa cuidadosamente cada palavra que ia pronunciar. Escrevia ele
mesmo os seus discursos e os principais documentos do seu partido.
Referindo-se à inteligência de
Amìlcar Cabral o Dr.Raùl Roa afirma que ¨havia seiva no seu espìrito¨.
Subtil e profundo Amìlcar reagia
à mìnima pergunta ou ao menor comentàrio com uma rapidez surpreendente. Fazia-o
com bom senso, ou de maneira incisivo e irònico.
Amìlicar tinha caracterìsticas
de um verdadeiro dirigente. Tinha uma grande intuição, sabia raciocinar,
refletir, não se deixava abater pelas circunstâncias e não esquivava os
problemas. Procurava tirar as suas forças nele mesmo para afrontar com
confiança os factos, os perigos, tinha o sentido da història. Era audacioso na
luta e clemente com o adversàrio. Rejeita tenazmente todo o pessimismo.
O seu escritòrio em Conacry,
estava instalado num modesto local que partilhava com Aristides Pereira, sua
secretària Henriette Vieira e Vasco Cabral. Às vezes para poder falar mais
ìntimamente pedia aos seus colaboradores, excepto Aristides Pereira, para
saìrem para poder ficar sò com o visitante...
...AMÌLCAR admite que não é
marxista, ele nunca foi membro do Partido comunista, mas como todo o homem
cultivado da nossa época, ele conhecia
bem o maxismo-leninismo. Ele seguia escrupulosamente as experiências dos
paìses socialistas, em Europa como noutros continentes... CABRAL apreciava a
obra do Martiniquês Frantz Fanon, nomeadamente “Os Condenados da Terra”. Tem
uma grande admiração pessoal por ele desde que se encontraram em Alger...
Quando AMÌLCAR CABRAL declara que “a luta de libertação nacional é um acto de
cultura” mostra até que ponto o pensamento de Frantz Fanon o marcou.
...Outro aspecto que merece ser
destacado: A concepção do AMÌLCAR sobre a moral. Ele acha que o partido não
deve nunca mentir, nem enganar o povo com discursos e falsos promessas, mas ao
contràrio evocar claramente as dificuldades e problemas que afronta. CABRAL tem
uma fé infinita nos homens. Lembramos do seu sorriso irònico quando nos disse
em vàrias ocasiões: “Eu sou um ditador democràtico, pois tomo decisões e em
seguida informo os meus camaradas”.
Pela sua contribuição à teoria e
à pràtica revolucionària, CABRAL distingue-se dos seus camaradas. À escala
internacional, ele soube, melhor que ninguém, servir uma causa que ele evocou
nos seus poemas escritos em Cabo Verde.
A sua luta valeu-lhe a estima e
admiração de Eduardo Mondlane, Samora Machel e Agostinho Neto, pelos quais tem
um grande respeito, pois eles também realizaram os seus sonhos de liberdade.
Sonhos que foram carregados de sacrifìcios, dos discursos e do trabalho de
homens como Lumumba e Nkrumah, que os inspiraram nas suas acções polìticas.
Quando o jornal Le Monde prestou
homenagem pòstuma, o quotidiano parisiense viu no AMÌLCAR um combatente
infatigàvel, um diplomata sùbtil, preocupado em preservar um futuro que recusa
de hipotecar, um homem aberto ao diàlogo, que não cessou de confirmar a sua
confiança na amizade entre os Portugueses, Caboverdianos e Guineenses.
Termino aqui com o ùltimo trecho da obra que OSCAR ORAMAS OLIVA dedicou
ao seu amigo revolucionàrio:
“...Ao desaparecer, CABRAL
transformou-se numa espècie de uma estàtua de bronze que mostra o caminho aos
homens na luta para a liberdade e independência nacional. À semelhança de
certos homens depois da morte, brilha como a luz da aurora.”