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jeudi 21 janvier 2016

Amìlcar Cabral, e a sua entrevista ao jornal francês "L'Humanité"


Aproveito este dia do aniversàrio do Heròi guineo-caboverdiano para publicar esta entrevista, dado o seu conteùdo, a sua importância inédita e dissuasiva no mundo ocidental de então. Ainda hoje nos mostra a coragem e a perseverança dum homem para com o seu objectivo, seja quais forem as circunstâncias.


Pois o engenheiro Amìlcar Lopes Cabral concedeu uma importante entrevista ao jornalista francês Jacques Arnault do jornal L'Humanité no mês de abril de 1964, hà 48 anos em plena guerra colonial contra Portugal. Esta entrevista foi publicada no L'Humanité no dia 6 de maio do mesmo ano e foi uma verdadeira mensagem aos Paìses Ocidentais, entre os quais a França onde a polìcia polìtica e fascista de Salazar operava livremente no seu territòrio como bem entendia...! E onde Amìcar Cabral tinha sido detido uns anos atràs no Aeroporto d'Orly aquando de uma escala.


Esta entrevista nos lembra ainda que o pai da nacionalidade caboverdiana e guineense era um homem de diàlogo, e que este valor humanista era uma das suas prioridades para enfrentar o Portugal fascista e colonial de então. Dotado de um agudo sentido de comunicação Amìlcar era também um homem clarividente. Pressentia algo que se estava tramando, envolvendo a França, e que constituia um dos obstacùlos na sua caminhada para conseguir a independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau?
Em pleno perìodo pòs-colonial da Àfrica francòfona o jornal l'Humanité ocupava um espaço importante na luta anti-colonial. Este encontro de Jacques Arnault com o lìder caboverdiano -  aliàs não foi a primeira vez deste quotidiano francês se interessar à luta de libertação nacional dos povos de Cabo Verde e Guiné-Bissau - constituiu na arena internacional mais uma victòria para estes dois povos.
Antònio de Oliveira Salazar na altura presidente do conselho em Portugal, continuava a proclamar o seu slogan fascista "Portugal (que se estende) do Minho à Timor", mais uma vez deve ter sentido dores de cabeça, como é òbvio, com esta entrevista de Amìlcar. Entretanto tinha em cima da mesa (ou talvez, jà no lixo) correspondências do lìder do PAIGC pedindo-lhe negociações para um desfecho pacìfico para a independência dos dois paìses e povos.


Eis alguns extractos da sua entrevista em francês, a qual pude traduzir para português e que fiz o màximo para ser o mais fiel possìvel.
A propòsito da greve no cais de Bissau, disse: 

"...Os portugueses têm os dias contados em Guiné-Bissau. De 1956 à 1959 nòs implantamos pouco a pouco entre os trabalhadores e pequena burguesia nas cidades, incentivamos e reforçamos as reivindicações de caràcter social. Em 1956 dirigimos uma importante greve no cais de Bissau, os Portugueses inclinaram. Em 1958 desencadeou uma greve da mesma natureza com os mesmos trabalhadores, aos quais se juntaram outros da navegação fluvial. Desta vez os portugueses reagiram com uma extrema violência, houve 50 mortos no cais de Bissau (conhecido como o triste-célebre "Massacre de Pidjiguiti"...!Tiràmos a lição desta nova situação. 
Era preciso encontrar outra forma de luta: A luta não podia ser pacìfica sò de um lado. Decidimos envisajar a "acção directa"... Nossa situação confirmava a experiência de lutas de libertação segundo a qual é difìcil de levar duma maneira contìnua "a acção directa" nas pequenas cidades cheio de polìcias e de informadores destas. Nòs decidimos de levar a luta para os campos precisamente ali onde os Portugueses eram mais vulneràveis..."


Acrescentou: "No dia 3 de Agosto de 1961, dia do aniversàrio do massacre de 1958, nòs anunciàmos a passagem à sabotagem do equipamento militar do inimigo. Ao mesmo tempo organizàmos e criàmos bases para guerilhas. Levàmos a cabo a formação de quadros no solo nacional e no exterior. Pouco a pouco a actividade de sabotagem se desenvolve. Hoje nòs controlamos quase 35% do territòrio, embora que nesta zona libertada os Portugueses têm ainda alguns sìtios importantes".


A propòsito dos quatro estados-maiores Portugueses enviadas, alternadamente, para o territòro guineense, disse: "Os Portugueses contaram com o ùltimo periòdo de estiagem para acabarem com a nossa resistência. È o quarto estado-maior em dois anos (as guerras coloniais consomem muitos estados-maiores) à se engajarem para inverter a situação em três semanas. A bancarrota hoje é total. Uma conferência de quadros reunida recentemente na zona libertada decidiu dar nesta zona todo o poder ao povo, para contribuir eficazmente no funcionamento regular dos Organismos do Partido, alargar a sua direcção ao mesmo tempo diminuir as exigências precendemente estabelicidas a fim de facilitar a colaboração de novos elementos que acabaram de chegar. No plano militar estamos agora na possibilidade de unificar as guerrilhas, a acção da força armada popular e milìcias do Partido para passar para um estado de guerra mais desenvolvido".
Sobre as eleições organizada pelos Portugueses: "Mas nòs consideramos sempre a luta armada como um aspecto da luta polìtica. Os Portugueses estão hoje sem possibilidade do movimento; o povo não paga mais o imposto. Os Portugueses tentam de organizar eleições para retardar o desfecho, mas sem resultados.
Os camponeses e os trabalhadores estão integralmente dispostos à luta, a mesma coisa para a pequena burguesia, anteriormente indecisa. ...As coisas estão agora relativamente mais facéis. As circunstâncias mais numerosas, tanto no interior como no exterior. Consideramos os paìses socialistas como amigos històricos... Nòs recebemos um apoio efetivo de todos".



Respeitante à O.N.U. : Temos um apoio concreto em certos meios ocidentais que votaram na O.N.U. condenando o sistema colonial. Este voto foi conseguido por unanimidade (aliàs Portugal incluìdo...). Este voto foi um engajamento. Se estes paìses não nos apoiavam contra o colonialismo português contradiriam os seus engajamentos em relação à O.N.U. .
Entretanto existem paìses que ajudam também Portugal. Nòs consideramos que estes paìses agem contra os interesses do nosso povo, mas não lhes pedimos para romperem com Portugal. O que lamentamos é que esses mesmos paìses não nos ajudam. Nosso povo avaliarà quem são os seus verdadeiros amigos e os que não são. Permita-me de lhe dizer que nòs consideramos também como amigos hitòricos as forças progressistas e todos àqueles que consideram que todo o povo tem direito à liberdade e a paz.


Concernente à França (fez uma ligeira alusão à Segunda Guerra Mundial): "Nòs aprendemos nos bancos da escola a afeição do povo francês para a liberdade e a democracia. Numa época relativamente recente vimos o povo francês pegar as armas para se libertar do jugo fascista estrangeiro. A colonização fascista portuguesa não é um problema sòmente nosso. È também um problema que concerne todos os homens.
Consideramos que o povo francês que deu à història tantos exemplos, pode desempenhar um papel importante para acelerar a destruição do colonialismo português."


Visionàrio ou não, Amìlcar Cabral pressentia "as coisas", as mudanças nefastas para a causa que defendia! Foi assim que seis anos depois desta entrevista, precisamente no dia 22 de novembro de 1970, as forças armadas portuguesas dirigidas pelo comandante Guilherme de Alpoim Galvão apoiadas pelos elementos dos serviços secretos franceses invadiram a Guiné-Conakry, uma operação violenta com o nome de còdigo "Operação Mar Verde".
Esta invasão tinha dois objectivos essenciais, entre outros: Eliminar Amìlcar Cabral e todos os componentes da direcção do PAIGC, à seguir também Sékou Touré, assim como a libertação dos prisioneiros militares portugueses. A residência do lìder caboverdiano foi bombardeada e metralhada, felizmente na altura estava ausente em deslocação à Sofia (Bulgària). Operação falhada...!! Felizmente os homens do PAIGC não obstante a surpresa, souberam defender  a "praça-forte" com brio e controlar a situação! 


Nada podia atingir o "Libertador", um vulto de uma tal envergadura, nenhuma arma poderia destruir um processo em marcha irreversìvel, mas existem outras vias com outros métodos não convencionais... 
E Amìcar Cabral de pronunciar um dia algures, esta frase visionària, pertinente e infalìvel: "Se um dia for assassinado, sê-lo-ei, provàvelmente, por um homem do meu povo, do Partido e talvez mesmo por um da primeira hora."
Dois dias depois do seu assassinato, o futuro presidente francês François Mitterand publicou um texto importante, no jornal "Le Monde", com uma vibrante homenagem ao lìder caboverdiano, e acusou directamente Portugal que teima a colonizar outros povos com métodos medievais, responsabilizando-o pelo ignòbil assassinato.
Amìlcar Lopes Cabral
Brevemente farei os meus possìveis para publicar este texto de François Mitterand, datando de 22 de Janeiro de 1973, como é òbvio traduzi-lo-ei em português.  

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